Moscow Season - Ep 7, Carmen
Carmen, com toda esta situação da sombra que a seguia, entrou em contacto com um amigo do seu passado para conseguir algum conselho que pudesse ajudá-la a descobrir quem seria. Acabou por receber algo, que lhe elevou novamente o espírito. Mas ela não esperava acabar numa armadilha, que lhe traria sérios problemas para manter-se morta por este mundo…
“WHEN HELP IS NEEDED Part I” by Carmen Montenegro
Entrei em casa atarantada, sem saber o que pensar. Ainda
tinha aquele bilhete a ferver nas mãos e a raiva em mim a borbulhar. Como podia
deixar-me intimidar por uma sombra? Eu!?
Entrei no quarto, fiz questão de bater com a porta, penso
que ouvi algo partir mas, não liguei. Dirigi-me à janela na esperança de ver
ali outra vez aquela sombra mas, não estava lá. Agarrei-me à janela com toda a
força, tanta força que saiu-me um bocado de parede na mão, que desfiz em pó.
Raios! Aquela coisa estava a dar-me em doida! Quem é ele!? E
porque raio segue o meu rasto e apaga o seu?
Sentei-me na cama pesadamente, de olhos fechados tentando
recordar o cheiro dele, passando em revista todos os cheiros que tinha na minha
mente, cada memória ainda restante, cada pedaço mas, nada.
- Mas que porra!
Agarrei os meus cabelos de raiva, era algo que tinha a mania
de fazer. Mas, foi então que dei conta da minha figura! Se ele queria meter-me
medo ou irritar-me, estava a conseguir e eu não podia deixar-me vencer por uma
“sombra”! Mas, não eu não iria deixar-me intimidar. Nem pensar!
Peguei no meu telemóvel e disquei o meu número de
emergência.
- Lawrence!? Preciso de falar contigo, por onde andas?! Ah
estás aqui! Okay, estou aí dentro de uma hora.
Mudei de roupa; Tirei a minha camisa branca suja de sangue e
vesti outra camisa branca de mangas curtas e umas calças de ganga preta, com as
minhas botas pretas de salto. Vesti um casaco preto. Resolvi deixar o cabelo
solto cair-me às ondas pelos ombros… Já tinha de o cortar.
Saí do quarto, passei pelo de Sheftu e senti um cheiro
esquisito, presumi que fosse um dos incensos. Apesar daquele cheiro também
ser-me familiar, por momentos parecia-me ouvir um coração bater…mas, não
interessa! Tinha mais que me preocupar.
Percorri o corredor e desci as escadas, foi então que passei
pelo pior dos cenários, Verónica, com as roupas manchadas de sangue a ser
levada por Claire.
- Não perguntes… – Adiantou-se Claire, que a segurava
Verónica com toda a força. As duas entraram no quarto e eu não perguntei mais
nada.
Virei-me para a frente e deparei-me com Samantha, com um
novo vestido mas, sem qualquer jóia ao pescoço.
- O que foi!?
- Onde vais?! – Perguntou-me ela com um ar esquisito.
- A nenhum sítio do teu interesse… – Passei por ela sem dar
razão a uma resposta mais completa.
- Carmen…
Parei, e olhei para trás. Não tinha reparado mas, aquela
Samantha estava diferente. Tinha os braços cruzados ao peito, e o corpo rígido.
- Sim?
- Ainda tens família viva?!
Aquela pergunta apanhou-se desprevenida. De tal modo que eu
limitei-me a encolher os ombros.
- Sei lá, Sam… – Olhei para ela à espera de uma repreensão
imediata. Samantha detestava ser chamada de Sam, mas, por mais estranho que
pareça ela não disse nada. – Porquê?
- Nada… – Cruzou os braços e virou-me as costas,
encaminhando-se para o quarto. – Seja onde for que vais, tem cuidado. Faltam
três horas para o amanhecer.
- Não te preocupes, eu consigo tomar conta de mim…
- Eu sei que sim... – Olhou para mim por segundos e pareceu
sorrir. – Mas, mesmo assim tem cuidado.
Antes de puder responder, Samantha desapareceu pelo
corredor. Olhei em volta tentando certificar-me que tinha entrado no
apartamento certo. Samantha tinha acabado de ser simpática, para comigo depois do que aconteceu!? Tinha eu acabado
de ver Verónica com as roupas cheias de sangue!?
Voltei-me para a frente com um ar confuso. Realmente, aquela
noite não estava a correr nada bem para ninguém…
Lawrence encontrava-se numa mansão Vitoriana nos arredores
de Moscovo, numa zona isolada e verde. Era um vampiro antigo e muito conhecido
pelos seus gostos requintados; Ele ensinara-me a controlar os meus desejos de
sangue, a caçar e a usar os meus sentidos para esconder-me de quem queria o meu
mal. Um segundo pai para mim, cuidara e ensinara-me tudo o que sei hoje.
Empurrei a porta, sempre que vinha visitá-lo não conseguia
deixar de espantar-me com os seus gostos. Diga-se de passagem, que o homem – ou
melhor vampiro – não era rico, nem tinha poses, simplesmente aproveitava as
casas vazias quando os donos iam de férias. Pouco requintado para um homem
cheio de requinte, certo!?
Contei-lhe a situação toda, de sentir que estava a ser
seguida e de como estava receosa de ser um caçador ou até mercenário.
Expliquei-lhe do cheio que sentia e do pequeno flashback que tive ao tentar lembrar-me quem era aquela sombra.
Em resposta, manteve um ar sério, cruzou a perna e as mãos
sobre o regaço. Levantou os seus olhos negros na minha direcção.
- Seguida por um humano.
- Sim.
- Caçador?
- Não sei.
- Conhece-lo?
- Não, ele está sempre encoberto mas hoje… – Tirei o papel
do bolso. – Deixou-me isto.
Lawrence pegou no papel e leu atentamente, levou o papel ao
nariz.
- Hum… – Ficou a pensar durante segundos. Lawrence era um
batedor, conseguia encontrar quem fosse pelo cheiro. Era o seu forte. – É um
homem, entre 27 a 30 anos. E tem um cheiro muito característico…De certeza que
não o conheces?
- É complicado… – Tomei uns segundos para pensar. – Eu
conheço o cheiro, tenho a certeza de que conheço. Ao tentar recordar-me eu…
- Tiveste um pequeno flashback.
- Sim.
Lawrence continuava de olhos no papel.
- O que viste?
- Hum… Uma casa de madeira numa floresta. E eu…queria algo da
casa… Havia qualquer coisa que chamava à minha atenção.
Lawrence olhou para mim com um ar sério de tal modo que
senti medo.
-Fala com uma das tuas bruxas.
- Não são minhas
bruxas, Lawrence.
- Não interessa. – Estendeu-me o papel e eu guardei-o. – Como
bruxas devem saber algo sobre a hipnose.
- Isso resulta? Connosco, quero dizer.
Lawrence, levantou-se e abriu um armário. Tirou uma garrafa
com um líquido avermelhado e um copo.
- Deve resultar.
Algo interessante mesmo sendo vampiro Lawrence nunca deixara
os vícios humanos, adorava um bom brandy ou um charuto. Não os conseguia sentir
mas, era simplesmente…chique
Enquanto Lawrence preparava o seu brandy, eu pensava se a
hipnose realmente resultava e depois…a quem iria pedir? Claire? Verónica?
- Ouve… – A voz de Lawrence fez-me despertar. – Tu és
especial, Carmen. Tu tens memórias enevoadas, todo o teu passado é um nevoeiro
mas, vive-lo todos os dias em flashbacks. E eu considero-te sortuda, muitos
vampiros – eu inclusive – esquecem-se completamente de quem foram em humanos
mas, tu… Tu lembraste não em concreto mas, lembraste e isso pode ajudar-te num
futuro próximo.
Lawrence era adepto do oculto que enjoava. Embora, falasse
das “minhas” bruxas com algum desdém num deixou de sentir curiosidade pelos
seus poderes.
- Certo... – Levantei-me e olhei para o relógio. – Tenho de
ir.
- Espera, miúda. Tenho algo para ti. Penso que é altura
ideal para oferecer-te. Lawrence percorreu a sala, até a escrivaninha que
estava ao canto. Abriu o tampo de madeira e pousou o copo de Brandy. O móvel
tinha várias gavetas, Lawrence observou durante um bocado até que abriu a
terceira a contar do fim. Tirou de lá uma caixa de metal.
Aproximou-se de mim com a caixa na mão, era de tamanho
considerável, e provavelmente pesada pois Lawrence segurava-a com as duas mãos
ou seria só para causa suspense. Ele fez um gesto com a cabeça, dando-me
autorização para abrir e assim fiz…
Deitadas sobre um forro de veludo negro, estavam duas
pistolas com os canos paralelos. Eram lindas de um metal pulido e reluzente,
eram grandes, e com a base em preto.
- São tuas.
- O quê?!
- Yep! Duas Desert Eagle 50. Modificadas.
Reparei nas inicias que se encontravam do lado de cada cano:
CM.
- Carmen Montenegro. – Repeti o meu nome em voz alta
enquanto olhava para aquelas beldades.
- Já as queria dar há algum tempo mas, tu e as tuas amigas
andam sempre em viagem. Pega nelas.
Peguei numa e senti o metal frio contra a minha mão, estendi
a mão e segurei a outra. Fui percorrida por uma adrenalina entusiasmante, no
meu tempo não havia armas automáticas como agora, era tudo em pólvora, chumbo
ou a lâmina. Em anos que sou vampira nunca havia tomado uma arma nas mãos mas,
agora…não iria querer outra coisa.
Virei-me para a parede e fiz pontaria a um quadro de estilo
romântico de Turner. Aquelas armas ficavam-me bem. Imaginei-me a disparar
contra a sombra que me perseguia…a adrenalina quase que me matou.
- Se voltares a ver essa tal “sombra” dispara primeiro e
depois fazes as perguntas. Melhor táctica não há. – Sentou-se no seu cadeirão. –
Carmen, querida. Não te esqueças das munições.
Flecti os braços e olhei por cima do ombro para a caixa.
Dentro estava mais uma caixinha pequena em tom castanho-escuro. Meti a pistola
de lado e segurei a caixinha, tirei lá de dentro uma bala fina e prateada.
- Hum…Lawrence, eu não sou forense nem nada mas, não me
parece que esta bala corresponda a arma.
Lawrence sorriu maliciosamente.
- Acredita, corresponde. As balas que tu seguras na tua mão
matam qualquer criatura sobrenatural, obviamente, não as comprei do modo mais
“legal” mas, estão aí.
- Então, matam tudo? Tudo mesmo.
- É o sonho de qualquer caçador ter uma dessas, Carmen. –
Lawrence sorriu-me ainda mais e ergueu o copo na minha direcção. – Parabéns.
Fiz o percurso para casa em silêncio e sempre sozinha.
Trazia as minhas duas armas numa mochila preta que Lawrence tinha pedido
“emprestado” aos verdadeiros donos da mansão. Sentia o peso delas nas minhas
costas e imaginava como seria matar alguém com uma delas. Não evitei sorrir.
Ia à beira da estrada quando reparei numa sombra caída. Um
vulto. Da distância vi que era uma mulher, conseguia ouvir o seu coração bater
fraco, talvez estivesse desmaiada. Aproximei-me e larguei a mochila a uns
metros, ajoelhei-me ao lado da mulher de cabelos acastanhados aos caracóis e
virei-a ao contrário. Era jovem, talvez com uns 30 e poucos anos, usava muita
maquilhagem – maquilhagem bem barata – e, pelo cheiro, senti que estivera a
beber cerveja. Observei-a muito rapidamente e vi que não tinha qualquer ferida.
- Hey… – Bati-lhe na cara ao de leve. – Hey, acorda…
Olhei em volta na esperança de ver alguém mas, distrai-me
com algo no meio das árvores à minha direita. Ouvia algo.
Era forte e descompensado.
Nervoso. Ansioso. Temeroso?
Era um segundo bater de coração!
Antes de poder sequer raciocinar que aquilo era uma
armadilha, senti a mulher a mexer-se e algo brilhante passou pela visão
periférica e a seguir, uma sensação bruta no peito.
Subitamente, não consegui respirar, nem mexer-me ou falar.
Arfava a procura de ar como um peixe fora de água, com os meus olhos abertos em
pânico. Caí para o lado pesadamente, sem conseguir mover-me, com os olhos
cravados nas árvores à minha esquerda.
- YES! – Ouvi uma voz masculina a gritar, depois passos pesados.
– Wow… Apanhamo-la, baby!
A mulher, que supostamente estava mal, levantou-se de um
salto. Não a conseguia ver mas, sabia que estava bem contente.
- Eu sei!
- Quase que nos apanhava mas, tu foste rápida. – Ouvi o som
de um beijo. – Amo-te, chuchu.
- E eu a ti, docinho.
Um novo som de beijo por segundos, depois senti-me a ser
virada de barriga para cima. Depois duas caras, com sorrisos idiotas,
apareceram à minha frente.
- Ui…este é jovem… – Disse o homem, tirou a neve da minha
cara e alguns cabelos. – Deve ter umas belas presas.
- E tem um belo fio. – Senti a ponta dos dedos a fecharem-se
em volta da minha flor-de-lis e depois a ser arrancada com violência. – É
lindo!
- Fica-te muito bem, chuchu.
A mulher sorriu vaidosa. Cabra, iria morrer lentamente por
ter tirado o meu fio!
O homem levantou-se e tirou dois longos fios de prata dos
bolsos.
- É mesmo necessário?! – Perguntou a mulher.
- Sim… – O homem segurou os meus pulsos enquanto falava e
enrolava um dos fios de prata em volta. Senti a pele a queimar. – Uma vez o meu
tio, apanhou um destes e deu-lhe uma estacada no peito mas, não prendeu o
vampiro. Num momento de distracção, ninguém sabe bem como, o vampiro tirou a
estaca e matou o meu tio.
A mulher fez um ar de choque ao ouvir a história, abriu os
olhos em espanto.
- Oh meu Deus! Isso é horrível…
Enquanto falava, apanhava o outro fio e amarrava-o nos meus
tornozelos.
- Pois é, portanto há sempre que amarrá-los. – A prata
queimava a volta dos meus pulsos, e mesmo estando por cima das minhas calças,
conseguia senti-la na minha pele a ferver. – Por isso. Ela vai ficar assim,
presa, até acabarmos com ela.
- E o que vamos fazer?
- Primeiro, tiramos-lhe as presas, já sabes presas de
vampiros valem uma fortuna e uma boa quantidade de sangue. Vendemos a máfia e
ganhamos balúrdios de dinheiro. – O homem abriu a minha boca. Com a estacada
que levei, as minhas presas desceram instintivamente. – Uau, olha-me para estas
beldades.
- São grandes… – A mulher olhou para os meus olhos. ― Vales
muito, querida. Muito mesmo.
- Sim…
- E depois?! Deixamo-la assim?
- Não… – O homem debruçou-se sobre mim, encarou a esposa. ―
Vamos queimá-la ao nascer do sol.
- A sério?!
O tom de voz dela era de pura excitação.
- Oh sim. Vai buscar a carrinha.
Daí a pouco ouvi um som de motor velho, e fui pegada ao
colo. Percorreu alguns metros comigo nos seus braços, e assim que chegamos à
carrinha largou-me como um saco de batatas.
- Amor, se calhar é melhor espetarmos mais uma… – Disse a
mulher com uma estaca de madeira, com a ponta em prata na mão. O homem pegou na
estaca e espetou-a novamente no meu peito, voltei a sentir dor e arfei por ar.
- Vamos! – O homem fechou as portas da carrinha. – Temos
dinheiro para ganhar.
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