Moscow Season - Ep 6, Samantha

Depois de uma discussão com Carmen, sendo obrigada a retirar-se por ordem da Sheftu, Samantha acaba por seguir o rasto de um homem que lhe fizera estremesser de prazer, não fosse ela aquela que adorava juntar o prazer com o sabor das suas vítimas. Porém, mal saberia ela que esse prazer custaria bem mais do que uma vida humana, poderia custar tudo aquilo que ela já acreditara ter nessa sua existência. Quem seria ele?

“Begining Of The Past Part I” by Samantha Saint



Estava no meu quarto, mais uma vez metida nos meus pensamentos. Verónica e Clarie falavam, aliás, sussurravam – como se eu não conseguisse ouvir – há horas sobre os malditos telefonemas... “Talvez ela te possa ajudar…”
Vi Carmen chegar à entrada do hotel. Dava para ver a tensão dela à distância, completamente desnorteada e fora de si. Até se assustou quando o arrumador apareceu para lhe ir estacionar o carro.
Mal entrou na penthouse notei logo a sua presença. Já sabia o que iria sair dali.
Ouvi parte da conversa, mas sem dar grande importância ao acontecimento – “Hum… Passou-se alguma coisa enquanto estive a caçar?”
“Não, tudo bem. Tirando a Sheftu que está de mau humor e a Samantha que está sempre a chatear…” – Ah claro, tinha que sobrar para mim!
Continuava à janela, com o meu lindo escorpião. Este mantinha-se na minha mão, dançava por entre os meus dedos, era como que uma espécie de amigo. Graças a um feitiço que pedi a Clarie, consegui torná-lo tal como eu… Um ser imortal.
Estava a stressar de estar naquele quarto. Apesar de estar exactamente como eu desejava. Tudo em tons de roxo pálido e preto que por um lado o tornava misterioso, sombrio e extremamente sensual, como até um pouco acolhedor. Mas precisava urgentemente de duas coisas… Sangue jovem… E de COMPRAS! É isso mesmo… Vou às compras!
- Bem, não posso ir só de vestido. Dá nas vistas, vão pensar que estou louca. É isto mesmo que eu precisava. Um casaco de peles! – Disse para o meu escorpião como se ele me pudesse responder.
Saí do hotel, mas de repente lembrei-me que estava sem carro. Hoje teria que ir a pé. Para minha sorte, bem pertinho havia umas lojas bem apelativas.
Enquanto caminhava - Realmente esta terra fascinava-me. Adoro o frio – Ouvia algumas conversas de pessoas que ali passavam, sempre muito espantadas quando me viam. “Olha só para ela...”, “Sim, eu sei. Como é que ela faz? Tão perfeita… Não se vê uma única imperfeição” duas raparigas comentavam. Olhei para ela com ar de desprezo mas para dar a entender que as tinha percebido, ficaram assustadas com a minha expressão. Era de mau tom falar assim de quem não se conhecia! Mas tenho que confessar… Adorava que falassem de mim. – Sorri para mim mesma.
Nesse momento parei à frente de uma joalharia… Tinha um colar lindo, perfeito. Combinava exactamente comigo. Uma malha grossa de ouro branco, com um pendente roxo. Um diamante colorido. Era supérfluo, eu sei. Mas o podia deixar de levar!
Entrei na joalharia, e o senhor que estava na mesma, veio rapidamente ter comigo:
- Boa noite, deseja algo da nossa loja?
- Aquele colar que ali está. – Apontei para a montra completamente iluminada.
- Aquela raridade… – Olhou para mim desconfiado, apesar do meu ar luxurioso – Hum, aquela peça é simplesmente uma obra de arte, e… Bem é a mais cara da nossa loja, não sei se…
- Mas quem pensa que sou?? – Fiz o meu maior ar de escandalizada – Eu quero-o e é agora! Não importa o preço. Eu tenho, de certeza o suficiente para pagar. Presumivelmente mais do que você ganha em dez anos!
- Eu… Peço desculpa. Vou já tratar disso. Quando o quer levar?
- Agora como é óbvio!
O empregado ficou completamente estupefacto a olhar para mim. Arrumou o colar numa bela caixa. Apresentei o cartão e ele sempre desconfiado…
- Tenha uma boa noite… Volte sempre.
-Ah, voltarei… - Provavelmente para arrancar o pescoço deste imbecil.
Continuei o meu caminho à procura de algo mais para comprar. Porque não comida? Sim, vou levar para as bruxinhas.
Enquanto caminhava para casa vi um belo jovem. Meus olhos brilharam de emoção… Seria ele a minha próxima vítima. Mas teria de deixar para mais tarde.
Cheguei a penthouse satisfeita, deixei a comida no corredor. Despi o casaco, coloquei o meu lindo colar… Quando de repente oiço a Carmen:
- Raios! Mas que…Que porcaria é esta!?
- É comida chinesa! Quis comprar.
- Para quem? Nós não comemos!
- A Claire e a Verónica comem!
- Mas não comem comida chinesa, Samantha! Onde compraste isso?
Coloquei as mãos no colar com medo de que mo tirassem e disse:
- Numa joalharia aqui perto. É lindo, não é?
- E caro! Não podemos fazer gastos desnecessários! Temos que manter-nos o mais discretas possível…
- Discretas?! Não sei se reparas mas, estamos numa penthouse num dos melhores hotéis do mundo e tu conduzes um Mustang feito por encomenda! Como queres ser discreta?!
- Não quero saber! Vais devolver essa jóia e esta comida horrível.
- Não! Lá porque tu não aceitas quem tu és, não significa que tenha de fazer o mesmo!
Carmen, quando lhe disse isso quase saltou em cima de mim completamente furiosa.
- Carmen, por favor… - Claire tinha sempre o dom de conseguir acalmar qualquer pessoa por mais enraivecida que esta estivesse.
Carmen lançou o saco com a comida que eu tinha comprado para cima de mim sujado todo o meu lindo vestido…
- Sua cabra! – Gritei furiosa.
- Samantha! – A voz de Sheftu fez-se ouvir - Já chega! Vai trocar de roupa, e limpa esta porcaria.
- Mas… - Trocamos olhares e desapareci.
Barafustei e roguei pragas a todas elas! Que ódio! Quem pensa ela que é? Minha mãe? Ela vai-mas pagar! Bem pagas!
Fui para o meu quarto mudar de roupa, estava completamente aborrecida com aquela idiota. Tinha de estragar o meu bom humor!
Já se tinha passado algum tempo e eu estava na sala à espera da minha hora para ir embora. Estava extasiada com as minhas ideias pois eu sou, aos olhos dos caçadores, uma obra do demónio, de Lúcifer. Talvez até tenham razão no que digam… Que existe neste mundo para destruir o que foi criado por Deus. Ele, sim, este homem era a confirmação do que iria ser destruído. Que seria a minha fonte de alimentação. Mas que antes me iria proporcionar muito mais que matar a minha cede. Esta noite a minha ânsia, o meu delírio, o meu deleite não era só por sangue… Era por prazer.
Mal tive a ideia de me ir embora para a minha caçada vejo Verónica toda coberta de sangue…
- Uhhh! Parece que a bruxinha se andou a divertir…
Num ápice todas as outras apareceram para saber o que se passava. Claire foi quem consegui falar:
- Que aconteceu, Verónica?
- Não sei Claire! Juro-te que não sei... – Disse com um ar completamente assustado.
- Eu não vou ficar aqui a ouvir-vos.
Fui embora, todas elas ligaram pouco ao facto de eu me ausentar. Não faço a mínima falta naquela discussão.
Saí da porta do hotel e apesar do frio consegui muito bem sentir o ser cheiro. Era suave, muito mesmo. Deixou-me em êxtase aquela pose. O meu fascínio pelo cabelo loiro era irrefutável e esta terra era simplesmente o meu paraíso.
Ele estava tão perto do hotel. Apenas a uns metros, o cheiro tornara-se intenso e as minhas veias pulsavam com entusiasmo. Procurei-o e não me foi difícil de descobrir num apartamento. Era muito vistoso, muito iluminado. Isto poderia ser um problema para mim, mas trataria disso mais tarde.
Entre no apartamento e ali estava ele, deitado na cama, profundamente adormecido. Aproximei-me do homem o mais subtilmente possível, e sussurrei ao seu ouvido – “esta noite serás meu” – e sorri ao pensar nisso.
Sentei-me ao lado dele e passei a mão pelo seu rosto com brandura. Abriu os olhos e arregalou-os ainda mais quando me viu.
- Tu és a mulher que vi hoje à noite…
- Sim – Respondi simplesmente.
- O que faz aqui? – Perguntou desconfiado.
- Segui-te. És completamente atractivo à minha vista e o só teu cheiro… – Passei a mão pelo cabelo e cheirei deliciada – é profundamente tentador…
- Mas… Está louca? Não a conheço, não sei o que quer de mim!
- Sabes muito bem… - Curvei-me sobre o estranho e beijei-o com fervor.
A sua respiração tornou-se mais audível e ofegante, as suas mãos puxaram-me para si e começaram a percorrer o meu corpo todo. Apesar de eu ser gelada e ele excessivamente quente, isso não parecia o incomodar.
Ficamos juntos toda a noite, e eu sempre a saber o que iria acontecer. Tal como uma viúva negra, eu iria matar o homem que me tinha satisfeito o corpo e que me ia satisfazer a alma dentro de breves momentos…
- Deixa-me só saber uma coisa. – Sussurrei ao seu ouvido com uma voz persuasiva – Qual o teu nome…
- Daniel…
- Tens nome de anjo. – sorri para ele, pensando na ironia da situação.
- E tenho nome de santo…
- Ai sim? Qual?
- Saint.
O meu mundo naquele momento caiu-me aos pés. Levantei-me da cama rapidamente. Ele ficou muito espantado a olhar para mim. Agarrei nas minhas coisas, vesti-me e sai do quarto o mais depressa que pude.
- O que se passa? Qual a pressa? – Disse-me de olhos arregalados sem entender nada.
Sai sem dizer uma palavra. Quase voei para a penthouse. Estava completamente desnorteada. Aquela corrida que poderia demorar poucos minutos, parecia que tinham sido horas. Ninguém me via apesar de tudo. Entrei como um foguetão no hotel, não dando oportunidade de ninguém falar comigo, nem mesmo o metediço do Concierge do hotel.
- Sheftu! SHEFTU!!!!! – Gritei o mais alto possível, mal entrei em casa ainda a correr, completamente alucinada.
Ela apareceu num ápice… Pela cara devia estar metida nos seus pensamentos mais uma vez.
- Sheftu! - Supliquei mal a vi. - Ajuda-me por favor…
- O que se passa? – Ela olhou desconfiada, afinal não era hábito meu pedir ajuda.
- Fui caçar… E…  – Expliquei tudo o que tinha acontecido mas atabalhoadamente. Tropecei em cada palavra pela rapidez com que disse tudo.
- Tem calma. – Agarrou-me nos ombros enquanto falava. - Vamos para o teu quarto para falarmos melhor.
Fomos para o meu quarto, mas eu estava completamente em estado de choque. Quando estávamos a entrar vi Claire que me olhava preocupada, mas ignorei.
- Samantha, exactamente o que te aconteceu? Não consegui entender nada.
- Já te disse! Fui caçar e… Tu sabes os meus métodos. Pouco ortodoxos, eu sei, mas isso não importa! – Ela olhou-me como que a dizer que eu tinha razão em relação a minha maneira de caçar.
- O homem que eu ia matar… Mas que estupidez! – Estava quase a gritar. – Eu perguntei o nome dele! Foi por acaso! Ele… Ele tem o mesmo nome que eu!
E contei-lhe tudo o resto. Ela escutou tudo de início ao fim com muita atenção e sem me interromper. Quando acabei ela gritou-me furiosa.
- O QUÊ? Não acabaste com ele? Já pensaste na consequência da tua irresponsabilidade?
- Não! Não fui capaz de o fazer! Mas não há nada a temer. Ele não sabe o que eu sou. Não tive tempo para fazer o que quer que fosse… Mas isso pouco importa!
- Ao menos isso. Mas vamos ter que falar com as outras já sabes disso – Disse muito séria.
- Mas…
Naquele momento alguém bateu a porta.
- Desculpem… - Era Claire. Mordeu o lábio com aquele ar que só ela conseguia fazer… Um tanto ou quanto inocente na minha opinião.
- O que queres Claire? – Eu já estava quase a desfazer-me em lágrimas.
- Ouvi o que se passou…
- Quem te mandou? – Fiquei furiosa com ela.
- Estavas a quase a gritar lembraste? – Como se fosse óbvio.
Olhei-a com ódio mas fiz sinal que continuasse
- Muito sinceramente… Eu já andava a investigar.
- O quê? – Sheftu e eu falamos ao mesmo tempo. Mas por motivos diferentes como era óbvio. Ela estava espantada, dava bem para ver isso. Mas eu não. Eu estava extremamente desconfiada com ela.
- Eu tenho um motivo.
- Que é? – Olhei para ela com fúria.
- Calma, deixa-me falar. Eu encontrei-o há pouco tempo por cá. No hotel. Deu ideia que tinha andado a seguir-me. E ao que parece não me enganei. – Disse pensativa.
-E por que motivo iria ele seguir-te? – Perguntei indignada.
- Pois, foi exactamente isso que estranhei. Não havia nenhum motivo em concreto. Até que resolvi investigar.
- Investigar? – Desta vez foi Sheftu que falou.
- Sim. Sei que ele se chama Daniel Heinz Saint. É de Inglaterra.
- E…? – Perguntei.
- E… Nada. – Ela disfarçou mas consegui notar que ela sabia mais do que dizia.
- Fala Claire! – Levantei-me e elevei a voz ao lhe dizer isso.
- A Samantha tem razão. Se sabes, fala. – Sheftu manteve-se calma.
- Mas eu não sei mais nada! – Virou-se para mim – A sério que não.
- Sabes!! – Gritei-lhe e com uma mão agarrei-a pelo pescoço e elevei-a a uns 20 centímetros do chão. – FALA!
Claire meteu as mãos ao pescoço começando a ficar sufocada. Esperneou mas não disse absolutamente mais nada.
- Samantha, já chega. Esta conversa acaba aqui. E temos que contar isto as outras. Comprometeste-nos… E muito.
Não foi preciso gritar nem elevar a voz. Olhei para ela indignada. Mas as suas palavras eram como ordens e eu obedeci ainda enraivecida com Claire. Ela saiu do quarto, seguida de Sheftu. Esta antes de sair, olhou para mim e murmurou “Eu ajudo-te”.
Cai na cama sem saber o que fazer. Estava desesperada. Olhei para a janela. Estava a nevar novamente. Isso fez-me lembrar a noite que eu passara. Cada detalhe, cada gesto, cada palavra dita. Tinha que investigá-lo, tinha mesmo que saber quem ele é… Eu sabia que teria que contar as outras o sucedido. Mas eu não queria contar isto fosse a quem fosse. Era uma vergonha. Logo para mim que nunca tinha deixado nenhuma vitima viva.
Porém o que mais me intrigou foi a atitude de Claire.
O que saberá ela? Afinal quem será realmente este Daniel Saint? Poderá mesmo ser da minha família? Ou será algo bem diferente?

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