Moscow Season - Ep 10, Carmen

A sua existência estava por um fio, agora que seu corpo estava entregue àquele casal que queria matá-la e vender o que pudessem do seu corpo. As presas, o sangue… Tudo serviria para enriquecerem à sua custa. Carmen pensava ser o seu fim, mas… Haveria algo que a pudesse salvar?

“WHEN HELP IS NEEDED Part II” by Carmen Montenegro


A viagem fora um suplício, não conseguia mexer nem respirar ou piscar os olhos. Parecia uma estátua de pedra. Quando os vampiros levam com as estacas, eles não morrem apenas ficam imobilizados, sem qualquer ponta de acção, claro que depende de vampiro para vampiro a força que tem para ver-se livre…eu não a tinha!
Quando paramos não havia visão de onde estava, fui pegada ao colo e levada para dentro. Sei que estava numa rua vazia, pois não sentia movimento em lado algum. Sei que fui levada para uma espécie de cave pelo cheiro a mofo, e sabia que ninguém iria encontrar-me.
Puseram-me me cima de uma mesa suja e fria, a minha cabeça tombou para o lado e pude ver várias seringas, tubos de plástico, frascos grandes com um numero infinito de presas, tubos de ensaio mas, o que mais chocou foi a quantidade de pequenas garrafas, como aquelas que se encontram em mini-bares, cheias de sangue.
- Ora bem… – Disse o homem atrás de mim. – Amor, prepara tudo.
- Sim, querido. – Ouvi a mulher a remexer e remexer em coisas de metal. – Já está.
- Óptimo! Ajuda-me a passá-la para aí.
Os dois pegaram-me, um pelos pés e o outro pelos braços, contaram até 3 e deitaram-me numa outra mesa de metal frio. A minha cabeça pendeu para a direita e eu vi os vários utensílios; bisturis, alicates, serras, berbequins…
- Tira-lhe as correntes… – Pediu o homem.
A mulher pegou nos meus pulsos e puxou a corrente que prata que fritava a minha pele. Deitou-a de lado e depois abriu-me os braços, prendendo-os de cada lado com cintos.
- Agora... – Disse o homem. – Vamos a parte interessante.
Tirou uma agulha e espetou-a mesmo no meu braço, ligando-lhe um tubo logo de seguida: Fez o mesmo no meu outro braço e no pescoço, não tardou até pelos tubos passarem o líquido vermelho e espesso, todos em direcção a três sacos diferentes.
Sentia-me a enfraquecer a cada gota.
- Vamos ganhar fortunas! – Dizia a mulher toda contente.
- Pois vamos… – Respondeu o homem. – Ora, deixa-me ver… Onde está o alicate?
- Está aí, querido.
O homem pegou num e logo o largou.
- É pequeno demais, amor. O grande?
- Humm… – A mulher andou pela sala a vasculhar. – Aqui está.
- Oh beleza! – Senti-o a aproximar-se da mesa e abanou algo à frente dos meus olhos. – Estás a ver isto? É um alicate. O que faz? Não serve para muita coisa mas, por exemplo, agora serve para eu arrancar-te essas lindas presas…
Ele virou-me a cabeça de modo a que eu o encarasse.
- Ora bem, abre a boca e diz “Ah!”
O que se passou a seguir aconteceu tão rápido, que nem eu tenho a certeza do que aconteceu. O alicate já estava em volta da minha presa direita, quando ouviu-se um estrondo imenso, o equivalente a portas a abrir.
- Mas que…?
Não houve tempo para perguntas, havia muito barulho. Parecia ser uma luta pois ouvia o som de socos, chutos e pontapés e gemidos de dor pela parte do homem e os gritos de horror da mulher. Depois o que pareceu ser dois tiros e um silêncio impenetrável, mas ainda conseguia ouvir o coração da mulher a bater forte e mais um.
- FILHO DA MÃE! – Gritou ela.
- Sim, um pouco… – Respondeu o desconhecido. – Agora, solta-a…
- Não!
Ouviu-se um clique e a mulher assustou-se.
- Queres mesmo acabar como o teu…chuchu?!
Ela demorou, mas acabou por se aproximar da mesa. Tirou os tubos todos, e as amarras, ia tirar as estacas mas…
- Não! – Disse o desconhecido. – Deixa-as.
- Porquê?! Porquê que a salvas?!
- Não é da tua conta! – Respondeu duramente. – Já agora, esse fio não é teu…
- É sim…
Ouviu-se o som de dois tiros, seguido de gritos assustados da parte da mulher.
- Não, não é. Passa-mo. – A mulher parecia não se mexer. – AGORA!
Ela soltou um gritinho, tirou o fio e mandou-o ao desconhecido.
- Agora, vai…- Disse ele. – Vai antes que te mate.
Ouvi passos a correr, enquanto ela subia as escadas e ia porta fora.
Ele aproximou-se de mim e viu o meu estado. Depois olhou para os meus olhos e eu senti-me a desfalecer, ele tinha uma cara bela, uns grandes olhos verdes, lábios rosados e cabelo aloirados mas, naquele momento observava-me com alguma raiva. Abriu o seu casaco e tirou uma outra seringa com um líquido invisível, enfiou a agulha no meu braço espalhando o líquido pelas veias.
- Assim não corres risco de ficares com infecção devido às estacas… – Quando acabou atirou a seringa para longe. O seu olhar parou na mala que estava no chão junto à porta, apanhou-a, deixando cair pesadamente junto à minha perna. Abriu-a e espreitou para dentro, tirou a caixa negra e abriu-a. Os seus olhos iluminaram-se ao ver as minhas queridas Desert Eagle.
- Belo par… – Voltou a colocar a caixa dentro da mochila, fechou-a e meteu-a as costas. – Não te preocupes, não vais precisar delas.
Voltou a encarar-me, por momentos pareceu estar cheio de dúvidas. Então, fez um gesto com a cabeça como quem diz “deixa lá isso”, pegou-me ao colo e levou-me dali.
Esta viagem foi mais calma, eu ia deitada no banco detrás do carro com os olhos presos no banco do condutor. Conseguia ver-lhe o cabelo castanho claro, de vez em quando olhava para mim pelo espelho retrovisor. Conseguia sentir o efeito daquela injecção, já conseguia piscar os olhos e a respiração – embora não necessária num vampiro, voltava à regularidade.
Como chegamos ao hotel não sei, simplesmente não sei. Muito menos como conseguiu ele levar-me até ao hotel sem ninguém reparar. Não prestei atenção a isso. Quando dei por mim estávamos no elevador de serviço, até à penthouse. Quando saímos ele percorreu todo o corredor comigo ao colo. Estranhei o facto de ele saber todos os caminhos do hotel. Será que trabalhava ali!?
Quando chegamos à porta, ele ajoelhou-se e colocou-me no chão com o máximo cuidado.
Eu parecia uma morta, com o meu olhar vidrado e a minha cabeça virada para a porta, se não fosse pelos meus gemidos de dor, de vez em quando, poderia até ser enterrada naquele instante.
Eu podia ver algumas sombras debaixo da porta, estava alguém na sala, ia tentar perceber quem era, quando senti uma respiração pesada perto do meu ouvido. Era a boca dele, do desconhecido, que estava mesmo perto, senti uma mão no meu cabelo e outra na perna.
Falou numa voz grossa e baixa, respirando contra o meu ouvido.
- Não penses que faço isto por pena ou simpatia… – Apertou-me mais o cabelo e falou mais baixo. Senti-me a tremer e algo parecido a um fogo a queimar-me no estômago. – É só para ter o prazer de ser eu a matar-te… A tua carcaça é minha, Carmen.
Afastou-se e virou a minha cara, olhou bem dentro dos meus olhos, enquanto eu perdia-me nos dele. A sua boca a centímetros da minha, de tal modo que eu conseguia sentir o seu hálito quente na minha pele. Ele fechou os olhos e encostou a sua testa a minha como se lutasse com a vontade própria, como se tivesse em sentimento algo completamente diferente do que a razão deixava. Ele roçou a testa na minha, os seus lábios rasaram os meus.
Soltou um suspiro pesado, largou a minha cabeça e levantou-se.
Começava a sentir-me mais forte, o suficiente para articular umas quantas palavras. Virei a cabeça, como se pesasse toneladas e vi-o enquanto se ia embora num andar imponente e certo.
- Quem…és…?!
Ele parou de repente, não esperava ouvir a minha voz, isso é certo. O seu coração deu um salto de susto. O homem mistério virou-se para trás, ficando de perfil com um ar carregado.
- Não sabes?!
Demorei a responder.
- N…Não…
Ele olhou para mim com alguma surpresa mas, voltou à sua mascara dura e insensível. Voltou-se para a frente e seguiu o seu caminho, abriu a porta da escada de emergência com violência e saiu.
Eu tinha forças a cada longo segundo que passava, devo ter ficado ali deitada à porta da penthouse uns bons minutos. Conseguia ver a maçaneta da porta reluzente e prateada a chamar por mim; Queria estender o braço para alcançá-la mas, o formigueiro era tal que não conseguia mexer-me.
Novamente momentos passaram até que consegui, mexer os dedos, depois o braço. Num momento de coragem estendi o braço e alcancei a maçaneta com a ponta dos dedos. Rodei-a e empurrei-a a porta com um bocadinho se força, como se isso adiantasse muito, na verdade a porta pouco se mexeu.
Grunhi de raiva, girei sobre mim mesma e empurrei um pouco mais a porta, com o braço e ela lá abriu mais uns centímetros. Estava a sentir-me mais forte, por isso dei um encontrão maior à porta e ela escancarou-se. Voltei a girar ficando de barriga para cima. Comecei a rastejar, pela sala de barriga para cima, apoiei-me em algo que não consegui identificar para conseguir meter-me de pé; As minhas pernas formigavam e estavam fracas. Quando ergui os olhos vi-me ao espelho, estava com a minha camisa vermelha manchada do meu sangue escuro e as duas estacas a saírem do meu peito. Os meus olhos estavam vermelhos sangue, tinha a testa húmida e – por mais estranho que pareça – estava mais pálida do que o normal, um tom amarelado adoentado. Senti comichão na garganta e soltei uma tosse ruidosa, que amparei com a mão. Quando olhei para ela vi o meu sangue vermelho escuro.
- Oh… – Limpei a mão na camisa e olhei para o meu peito reflectido no espelho. Reparei que uma estava menos afundada que a outra, por tanto tratei de tentar puxá-la. Agarrei-a com as duas mãos, e puxei… Ao ouvir o som de sucção e a falta de ar súbita, parei, aquilo metia-me medo.
Olhei em volta na esperança de ver alguém mas, era estranho, o apartamento estava as moscas. Fui atacada por uma nova tontura e agarrei-me ao móvel, que parecia uma cómoda ou assim.
Respirei fundo, agarrei a estaca novamente. Tomei uns segundos, depois puxei-a com toda a força. A dor bruta que passou pelo meu corpo apanhou-me de forma violenta, caí de joelhos apertando o móvel entre os dedos e engoli o grito. Olhei para a estaca na minha mão, toda ela de madeira, bem desenhada e com a ponta em prata. Um autêntico veneno.
Voltei a erguer-me, respirei fundo. A sala andava a roda, por isso quando me desloquei ia agarrada as paredes. Tropecei no que parecia ser uma cadeira, derrubei um candeeiro e fiz cair um quadro da parede.
Tropecei nos meus pés, caindo com força no chão. Não conseguia respirar, sentia formigueiros pelo corpo todo, e o sangue era abundante. Todo ele manchava a carpete a minha volta.
- Socorro… – A minha voz saiu apenas um fio, um fio rouco e baixo. Tão baixo que fiquei na dúvida se tinha ou não falado mesmo. – Socorro…alguém…por favor…
Olhei para o corredor e vi-o vazio, sem nada nem ninguém. Nunca tinha reparado mas, as escadas ficavam estupidamente longe. Era preciso as minhas forças todas, mesmo que fossem poucas.
A árdua tarefa de me arrastar até ao primeiro degrau demorou imenso. Sentia as minhas forças a voltar mas, mesmo assim o formigueiro não cessava. Apoiei-me no corrimão – agora sim, percebia o porquê de ali estar. – e levantei-me. As escadas pareciam dançar à minha frente e, por pouco, que não caía de cara no degrau mas, consegui apoiar-me com a mão direita.
Meti um pé em cima de um degrau, seguido do outro e lá consegui subir lenta, mas muito lentamente.
- Socorro… – Pedi novamente, quando cheguei quase ao cimo. Onde estava toda a gente?! Esta casa estava cheia de almas perdidas a toda a hora, era simplesmente impossível não ter um momento de sossego, no entanto agora estava tudo vazio.
Não me consegui aguentar e caí de vez, quando cheguei ao meu patamar. A respiração era pesada, mal conseguia abrir os olhos, o formigueiro aumentava. Voltei-me para cima, encarando o tecto todo branco.
Inspirei fundo, precisava de ajuda. Precisava de tirar aquela estaca do meu peito, que me queimava e não me deixava raciocinar. A estaca que trespassava o meu coração como um queijo mole é trespassado por uma faca. Senti uma comichão na garganta e não consegui evitar tossir, devo ter cuspido mais sangue por senti o sabor metálico. Estava em pleno desespero.
Precisava de ajuda, por isso inspirei fundo e tentei levantar-me novamente. Quando estava de pé, apoiada no corrimão, usei toda a minha força.
- SOCORRO! ONDE RAIO ANDAM VOCÊS SUAS CRIATURAS SEM CORAÇÃO…
Ouvi o som de duas portas abrirem-se, ao lado vi Samantha, ela olhou para mim com um ar de horror. Aproximou-se de mim e segurou-me.
- Carmen…
Uma outra porta, à minha frente, abriu-se de repente e vi algo, ou melhor alguém que não esperava ver. Pelo ar que Samantha fez, também ela estava espantada.
Já eu, não podia acreditar! Logo, ele!
- Eric?!
Ele também olhava para mim com espanto total, o seu olhar desviou-se para o meu peito, com uma estaca no lugar do coração.
O meu olhar desviou-se para o movimento atrás dele; Vi Sheftu de joelhos na cama, olhando para mim com total horror.
- Oh meu Deus…o que te aconteceu!?
A resposta à pergunta, nunca chegou. Só sei que tive uma sensação de leveza, depois tudo ficou negro e a última coisa que ouvi foi o grito de susto que chamou por mim!
- CARMEN!

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