Moscow Season - Ep 1, Carmen

Tudo começa com a lembrança do dia em que Carmen, uma caçadora de vampiros, foi transformada pela sua própria presa. Descobrimos um pouco sobre as relações que existem pela casa e o que essa vampira sente quanto à sua condenação eterna e a cada vez que o seu corpo morto pede por alimento, seus instintos de caçadora se misturam, trazendo-lhe remorsos, pela sua condição tão longe de ser humana... Mas, afinal, quem seria aquele vulto?

"Old Habits Die Hard" by Carmen Montenegro


É uma armadilha! Cheira a armadilha! Só pode ser…
O meu sexto sentido berrava na minha cabeça, enquanto entrava pela casa abandonada. Pé ante pé em cima daquele soalho velho e irritante. Ali estava eu, com a minha pistola em punho, com todos os meus sentidos em alerta máximo. O instinto de uma caçadora nunca se engana mas, naquele momento era ignorava-o por completo: 1º erro.
É uma armadilha!
Ignorei novamente, só via o meu objectivo: caçar aquele sugador de sangue. Caçá-lo e juntá-lo à minha enorme lista de mortes, afinal era caçadora por alguma razão, certo?
Movimento do lado esquerdo e viro-me com a minha estaca de madeira apontada à escuridão. Os segundos passam e passam lentamente e o meu coração quase que salta do peito…
― Carmen... – Chamou-me uma voz masculina e sensual na escuridão. – Carmen…
Virei-me para o local de onde veio o som mas, não vi nada.
― Mostra-te, presas! – Ordenei, a minha voz ecoou pela casota velha.
Novamente silencio, mortal. Não podia deixá-lo escapar, percorrera o país à procura daquele vampiro e estava disposta a juntá-lo à minha colecção.
Senti uma aragem atrás de mim e virei-me.
― Boas… – À minha frente estava um belo homem, de cabelos compridos pretos e grandes olhos vermelhos. Cara pálida, estranhamente pálida mas, com os lábios vermelhos. Fiquei sem ar ao confrontar-me com a sua beleza, naquele momento eu soube que a minha vida humana, chegara ao fim…

Abri os olhos, despertando da minha memória. Precisei de uns segundos para recompor-me. Todas as noites era assolada pela recordação da minha transformação, não sei porquê; Talvez por ser da minha última lembrança enquanto ser humana, daí revivê-la todas as noites…
Dei por mim em frente ao computador.
― Outra vez, em volta do computador… - Disse uma voz feminina. Virei a cabeça e vi Verónica.. – Por favor, não me digas que andas à procura de mais “casos” para passar aos teus colegas caçadores.
Ali estava ela, Verónica uma das nossas bruxas de companhia. Estava encostada à porta atirando a sua faca ao ar.
― O que queres?! – Perguntei sem paciência para aturá-la.
― Devias mesmo deixar essa vida para trás. Não é o que tu és e, não é saudável…
Não mo dizia num tom de amizade mas, sim prepotência como se soubesse que essa era a minha maior falha.
Não somos propriamente amiguinhas e queridas, apenas companheiras de viagem. Nenhuma de nós aguenta e nem pode ficar no mesmo sítio mais do que um mês. Primeiro, porque o aumento da mortalidade masculina entre os 20 e os 40 anos aumenta drasticamente, Segundo, quem é que aguenta ficar um mês no mesmo sítio?
Verónica deu uns passos na minha direcção.
Rodei a cadeira na sua direcção, estava a ponto de atacá-la.
― Vives no passado, Carmen. O tempo de caçadora já lá vai...
― Eu sou caçadora, sempre fui e vou ser.
Verónica sorriu ironicamente.
― Correcção: Tu não és caçadora, és uma vampira!
― Isso não significa que tenho de parar de fazer o meu trabalho! – O meu tom era de ordem. Verónica voltou a meter-se direita.
― Tudo bem, presas. – Voltou-se para a porta. – Não sei porquê, mas, simplesmente adoras sofrer!
Exclamou sorridente e saiu do quarto deixando-me sozinha. Voltei-me para o computador e vi o caso à minha frente, assim que tivesse oportunidade iria investigá-lo.
Levantei-me e dirigi-me à janela do meu quarto. Podia ver toda a cidade de Moscovo coberta pela neve. Algo digno de se ver. No céu estava uma bela lua cheia, inspirei fundo, estava uma óptima noite para caçar.
Espreguicei-me, estalando os ossos dos braços, das costas e das pernas. Aproximei-me da janela, ficando ao lado de Verónica, do nosso quarto de hotel via-se a cidade toda, coberta sob um manto de neve. Conseguia ouvir o batimento cardíaco de cada pessoa que andava na rua. A minha sede aumentava.
Peguei no meu casaco, nas chaves do carro e saí do quarto trancando-o à chave. Havia demasiada coisa ali dentro e não queria que andassem a coscuvilhar. Estávamos no quarto na penthouse do melhor hotel na cidade. Éramos ricas o suficiente para tal. Não gostávamos de ostentar mas, isso não significa que tínhamos de viver mal.

Entrei no carro e guiei sem parar, não sabia para onde ia nem o porquê mas, quando tenho sede deixo-me levar pelo instinto. Não sinto o carro nem vejo a estrada, parece que vou em transe até chegar onde quero.
E, neste caso, cheguei a um bar, parei uns segundos à entrada, tentando analisar mais ou menos o local e sorri. Assim que entrei no bar, foi a loucura total. Conseguia ouvir os batimentos de todos os homens presentes, como escolher? Mas, logo encontrei.
O homem era alto, forte, com penetrantes olhos verdes e cabelo preto. Tinha um tom de pele moreno e via-se que praticava desporto.
― Boa noite. – Disse-lhe sorridente.
― Boas. – Respondeu-me também.
Olhei para o seu pescoço e conseguia ver a veia a pulsar-lhe do pescoço. Conseguia ouvir o seu coração suculento de sangue, o correr do sangue nas veias…apetecível.
― Posso convidar-te para um jogo?
Ele sorriu-me, estava a ponderar se devia ou não aceitar.
― Não sei.
― Tens medo de perder?
― Não, eu sou um cavalheiro, não quero magoar os teus sentimentos ao derrotar-te… Iria sentir-me mal.
― Não te preocupes com os meus sentimentos…
Tinha-o agarrado, eu sabia. Conseguia sentir a sua luta pessoal.
― Tudo bem…
Apanhado! Lancei o isco e ele comeu-o com gosto.
Depois do jogo, que eu perdi de propósito, deixei-o beber umas quantas cervejas. Não bebi com ele mas, não deixei embriagar-se, afinal, o sangue não saberia muito bem se estivesse podre de bêbado.
Daí a levá-lo para a sua carrinha Chevrolet a cair aos pedaços, foi fácil. Disse que queria boleia para casa, estava muito longe, e juntei uma carinha de cãozinho abandonado à mistura.
Levei-o por caminhos desertos e longe de tudo.
― Pára aqui… – Pedi gentilmente. O homem parou o carro junto à berma da estrada e eu virei-me para ele. – Podes começar a correr…
Ele riu-se.
― Porquê?
Eu sorri tambem mas, não por muito tempo. Mostrei-lhe as minhas presas e os meus olhos brancos, a sua reacção foi impagável. Ficou branco que nem cal, largou um berro como se fosse uma menina assustada e saiu a correr. Dei-lhe um avanço de uns bons metros, uma das vantagens de ser vampira: A velocidade.
Saí do carro lentamente e ajeitei a roupa. Conseguia vê-lo a correr e seguiu-o sem muito esforço. Em pouco tempo estava mesmo atrás dele, estiquei a perna, ele tropeçou e estatelou-se no chão. Virei-o com o pé e sentei-me em cima dele.
Ignorei os pedidos de misericórdia e de piedade, aprendera a não deixar que me afectassem. Agarrei-o pelo pescoço e mordi-lhe com toda a força. Senti o seu sangue na minha boca, na minha língua: Quente, cheio de adrenalina e medo. Sabia muito bem, mas durou pouco tempo e deixou-me com vontade de repetir, pena que o ser humano não tinha muito sangue. Suguei-o até não haver mais o que sugar, deixei-o cair inerte, sem vida no chão. E suspirei…já sabia o que vinha a seguir. A culpa!
Levantei-me e observei o corpo do jovem morto e fui assolada pela culpa.
― A culpa é horrível…
Virei-me e vi uma jovem junto a uma árvore. Trazia um vestido branco e era muito bonita.
― Claire…O que fazes aqui?!
Ainda estava em modo de caça, as minhas roupas estavam sujas de sangue e ainda tinha as minhas presas de fora.
― Estava a passear e ouvi-te a caçar. Quando és tu, os homens gritam…
― A sério?! Que engraçado…
Ignorei-a e observei o corpo. A culpa, era tão forte. Eu sou um monstro!
― Carmen, porquê que te torturas? – Senti Claire aproximar-se. – Não vale a pena, aceita quem és. Deixa o teu passado de fora…
Voltei-me para Claire, interrompendo o seu movimento.
― Deixa-me em paz, se não queres ficar sem pescoço!
Claire sorriu.
― Não tenho medo de ti…  –  Ela meteu as mãos atrás das costas. – E sei que não me farias mal, tu não és assim.
Revirei os olhos, não suportava aquela bruxinha amiga de tudo e todos. Sempre aprendi que nunca ninguém é bom e simpático, só por ser. Tem sempre algo por detrás e a Claire…ela…era um enigma. Parecia saber sempre mais do que mostrava.
Peguei no corpo do homem, tinha de dar-lhe um fim decente.
― Não! – Claire estava a minha frente. – Deixa que eu faço isso.
― Não sabes como se…
― Nem tudo tem que ser pelo fogo e pelo sal, Carmen. – A bruxa estendeu os braços. – Eu sei uma maneira melhor de deixar a alma dele em paz.
Deixei o corpo cair no chão pesadamente e virei as costas à bruxa.
― Como queiras. – Parei de repente e voltei-me. – Queres que te espere?
Claire estava debruçada sobre o corpo, com um livro nas mãos. Olhou para mim e sorriu.
― Não. Podes ir, Carmen. Não demoro.

À medida que caminhava, fui-me deixando consumir pela culpa. Era verdade, eu era um monstro. Uma sugadora de sangue reles. Eu que ganhava a vida a matar criaturas deste tipo, tinha-me tornado numa delas e, mesmo com décadas de experiencia, continuava a não aceitar-me como tal. Encostei-me a uma árvore senti-me cansada. Não fisicamente mas, psicologicamente. Limpei a boca e ergui os olhos, foi então que eu vi. Nas sombras, ao longe um vulto olhava para mim. Não consegui dizer nada, nem fazer nada, apenas limitei-me a olhar para ele. Era humano, conseguia sentir o seu coração bater, estava ansioso e talvez assustado. E o cheiro, era-me familiar. Muito familiar. Mas, de onde?
Com um piscar de olhos aquele vulto desapareceu. Olhei em volta tentando encontrá-lo mas, não o via. Será que tinha sido imaginação minha? Quem era aquele vulto e…porque é que a sua presença incomodara-me tanto? Pior, porquê que me era tão familiar?

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