Immolation Season - Ep 18, Julian
Julian fora mergulhado num momento passado, ao mesmo tempo que o presente lhe assaltava a mente. Teriam sido descobertos a vigiar a casa? Aquela loira o intrigava cada vez mais. Ele desejava aproximar-se, conhecer cada um dos seus mistérios e obter os seus poderes para si. Mas... Seria apenas isso?
"Strategic Moves" by Julian Carriere
A névoa começava a dispersar, e a claridade
preenchia toda a minha visão. Aos poucos, as formas iam tomando contornos mais
definidos assim como as pessoas que se encontravam naquela sala de estar.
Senti-me confuso. Já estivera naquele lugar antes. Seria isto uma memória? Mas,
porque razão estava agora mergulhado numa memória passada? Tinha algo
importante para fazer, não era aqui que devia estar.
Os meus passos levaram-me por entre aquelas
pessoas com copos de champanhe na mão e empregados de bandejas prontos a servir
os que ali estavam. Vejo um aproximar-se de mim com o ensaiado sorriso
desenhado na cara, e automaticamente retiro um copo de champanhe. Imediatamente
tomei um gole, não sei se para manter o meu disfarce, se pela sede que sentia
em mim mesmo. Estranha esta sede que sinto.
Continuei a vaguear pela grande sala,
procurando a pessoa pela qual eu estava ali.
- Orgeon
- Murmurei assim que vi a sua silhueta junto do grande vidro que nos separava
do jardim. Aproximei-me dele.
- Penso que tens algo para mim. - Disse-lhe.
- Os papéis estão no escritório numa pasta
azul. Está lá tudo o que pediste. Agora espero que cumpras com o que acordamos.
- Orgeon... Sou um vampiro! Não temos por
hábito levar a comida muito em conta, sabes... - Toquei-lhe no ombro com a mão
direita, e depois virei costas. Abandonei-o na sua inquietação.
Deixei a sala e a animação que lá estava para
subir as escadas que me levavam ao andar de cima. Já no primeiro andar, reparei
nas paredes preenchidas por quadros de vários artistas. Este Orgeon era sem
dúvida um coleccionador por natureza. À medida que avançava no corredor, a
música do andar de baixo ia perdendo intensidade.
Entrei no escritório que ficava na penúltima
porta à esquerda. Um lugar onde a madeira escura preenchia cada canto.
Estantes, mesas, colunas. A madeira estava em todo o lado somente intervalada
com muitos livros e algumas esculturas. Encontrei a pasta, precisamente onde
ele indicara. Abri a pasta apenas para confirmar o meu adquirido. E então
percebi… A minha busca por Carmen. Isto fora num passado não muito distante,
mas como raio. Será que Eric não perdeu os poderes? Será isto obra dele?
Acorda! Impus a mim próprio. Mas nada.
Foi então que notei um raio de luz penetrar
por entre a porta entreaberta que dava para uma outra divisão. O que estava por
detrás daquela porta? Avancei... Inspirei fundo e com ambas as mãos abri a
porta em par. A luz invadia tudo. Se eu fosse um mero vampiro seria cinzas
neste momento. Uma divisão quadrada, com uma janela grande à minha esquerda.
Mais uma estante de livros ao fundo, um cadeirão à minha direita, e uma pequena
mesa para curtos apontamentos. Dei uns passos em frente, para analisar melhor a
sala. Lembrava-me que havia algo que marcara-me da primeira vez que estivera
nesta casa, mas não conseguia perceber o que era. Qual seja a razão desta
visita ao meu passado, vou vasculhar tudo para tentar perceber o que foi que me
marcou.
Voltei costas para sair da sala e iniciar a
minha busca, quando toda a minha figura congela no lugar em que está. O meu
olhar estava preso a uma pintura exposta mesmo ao lado da porta por onde eu
acabara de entrar. Um retrato que clamava a minha alma, o meu ser.
- Então
foi aqui que te vi da primeira vez... - Sussurrei ao olhar para a rapariga
de cabelos louros e aura quente que figurava no quadro. - Sheftu.
Hipnotizado por aquela figura encantada,
aproximei-me do quadro, levantando a minha mão na procura de alcançar para além
do quadro.
- Tu e o teu grupinho de idiotas andam a
vigiar-nos?
Sobressaltei-me quando ouvi aquelas palavras,
voltando-me imediatamente para a minha direita, somente para ver uma Sheftu à
minha frente, esta mais verdadeira que a do quadro. Como se isso fosse
possível, visto que aquela aura, onde quer que tocasse era única.
- Como estás aqui? - Perguntei-lhe no mesmo
momento que lhe segurei no braço. - O que se está a passar?
- ANDAS A VIGIAR-NOS!! - Agora mais uma
afirmação que uma questão, aquela energia atingiu-me em pleno, vi tudo
esfumar-se à minha frente e dei por mim a acordar no meio do descampado de
erva.
Completamente atordoado, levei algum tempo a
perceber onde estava e o que se estava a passar. Isto era a realidade. Já não
estava numa das minhas memórias. Fechei os olhos para tentar fazer com que as
coisas parassem de andar à roda, algo que estava a ser difícil. A sede então
era demasiada. Parecia que não me alimentava há meses.
Aos poucos, iam ordenando-se na minha cabeça
os vários acontecimentos. Foi quando notei que o sol não teria levantado há
muito.
- Rania! - Disse em pânico, apercebendo-me de
que ficara inconsciente o final do dia anterior e a noite. Ainda sem ter
recuperado completamente, levantei-me com rapidez, cambaleando por momentos,
mas depois correndo o máximo que podia para chegar a Rania. Uma velocidade que
mais se assemelhava à de um humano do que propriamente de um vampiro. Isto
porque a última coisa que queria era que Santiago viesse culpar-me por o que
acontecesse àquela vampira.
Não estava no local onde costumávamos
encontrar-nos para trocar turnos ou mensagens. Foi quando, a algum custo, a senti
na garagem. Ela estava a expor-se demasiado. Fui até lá e abri a porta que
estava encostada. Assim que entrei, fui recebido com um murro, que me fez voar.
Como é que ela ousava, mas parece que ela não ia ficar por ali. Uma chuva de
argumentos seguiu-se.
- Queres matar-me? - Perguntou, ao que eu
respondi para mim mesmo que sim. - Olha o que fizeste idiota! - Disse ao
mostrar-me a queimadura mais grave que tinha no braço. - E as protecções? Que é
feito das protecções? Tive eu que desencantar de um feitiço e tentar
ocultar-nos. Eu que não sou nenhuma feiticeira ou entendedora de magia.
- Rania, importaste de arranjar algo para
beber. E que não sejam coelhinhos. Estou com sede.
- O QUÊ? SÓ PODES ESTAR A GOZAR COMIGO!
- Baixa o tom, e arranja-me comida. - Disse
firmemente. Não estou em condições de te explicar nada neste momento. - Mesmo
que estivesse melhor, queria comer o mais rápido possível. Esta sensação de
vulnerabilidade deixava-me desconfortável.
Foi então que ela olhou para mim e reparou que
havia algo de errado. E parecia agora disposta a arranjar alimento.
- E como é que é suposto eu ir buscar-te
alimento, quando isto já não funciona! - Disse, quase cuspindo as palavras da
boca como uma serpente venenosa e apontando na minha direcção o anel que eu lhe
entregara antes.
Bolas ainda mais esta. - Dá-me cá isso. - Ela
atirou-mo e eu com alguma dificuldade consegui apanhá-lo sem fazer figura de
parvo. Agora esperava que as energias que já eram poucas dessem para pelo menos
fazer este pequeno feitiço. Murmurei as palavras e passei-lhe o anel.
- Tens que ser rápida. Não sei quanto tempo o
feitiço perdurará desta vez.
Ela fez uma expressão de quem me queria ver
morto, muito provavelmente por estar a enviá-la para debaixo do sol tórrido sem
certezas de que o feitiço funcionaria na perfeição. Depois apenas caiu em si e
partiu alertando-me para ficar atento, porque a melhor parte estava para vir.
Antes que eu pudesse perguntar o que era, ela
desapareceu a correr.
Não passaram quinze minutos, apareceu com dois
homens, que se agarravam a ela como se a quisessem possuir. Ela mandou-os
entrar na garagem, deixou-os avançar naquele espaço e enquanto isso fechou a
porta atrás de si, e depois caminhou na minha direcção, que por acaso
encontrava-me escondido por detrás daqueles homens.
- Aqui tens o que querias. Agora despacha-te!
Os homens estavam aparvalhados com aquilo que
Rania acabara de dizer. Não faziam ideia do que ela queria dizer com aquelas
palavras. Eu, no entanto, não precisava que me dissessem duas vezes para me
saciar. Lancei-me ao homem da esquerda, com os dentes afiados directamente no
pescoço. E suguei aquele líquido quente numa ferocidade inquietante. Nem uma
gota desperdiçada.
O outro homem gritava agora procurando uma
saída dali. Mesmo que o feitiço que Rania colocara, não havia razões para estar
a ouvir aquele chinfrim todo.
- Rania! Cala-me esse! - Disse com uma pausa
mínima na minha refeição, para depois retomar.
Rania lançou um murro naquele homem,
deixando-o cair inconsciente no chão. Depois olhou para mim e para a minha
figura.
- Quem te vê, diria que não te alimentas há
meses! O que se passou?
Já com aquele corpo drenado até à última gota
de sangue, passei para o segundo, agora com uma velocidade mais característica,
sem sequer me dar ao trabalho de responder àquela figura feminina que estava
com o olhar fixo em mim.
Também bebi este até à última gota. Larguei o
corpo do homem, que caiu pesadamente no chão. E fiquei no lugar em que estava
sentindo as energias outrora perdidas a regressarem. Minutos...
- Vais, ou não vais responder-me?
Estava pronto para lançar de novo o feitiço
que nos protegia de sermos detectados. Desactivado anteriormente pelo que me
acontecera e que eu não conseguia ainda encontrar uma explicação. Murmurei as
palavras.
- Pronto o feitiço está de novo levantado. Mas
terei que me livrar dos corpos. - Falava alto, mas era como uma confirmação
para mim próprio. - Talvez seja um pouco arriscado teletransportar-me... -
Olhei para os corpos dos dois homens no chão. - Mas é a forma mais rápida e
fácil de despojar-me destes homens. - Rania... - disse-lhe agora voltado para
ela. - São uns minutos...
Arrastei o corpo de um dos homens para junto
do outro de forma a ser mais fácil. Depois desapareci juntamente com os corpos.
Não queria ir muito longe, apenas o suficiente
para não levantar suspeitas e por isso deixei-os numa lixeira de uma cidade
distante de Inverness.
De volta à garagem vi Rania a andar de um lado
para o outro bastante inquieta.
- Bem, acho que agora podemos finalmente
falar. Preciso de um resumo do que se passou enquanto estive fora.
- E tu não achas que eu mereço uma explicação?
Oh
Rania, eu não estou para aturar isto, pensei.
- O que queres saber? - Perguntei-lhe só para
não ter que lutar mais uma vez.
- Por que é que as defesas caem de um momento
para o outro! - Uma pequena pausa. - A que criei não... - Chateada consigo
própria e desapontada parecia não querer continuar. - Era suficiente forte.
Elas sabem!
- O quê?
- A Sheftu e a Elizabeth sabem que a casa está
sob vigilância. Uma desconfiança que se tornou uma certeza, quando Sheftu
viu-me da janela. Fui rápida, mas não o bastante e o feitiço que criei não me
ocultou totalmente.
“ANDAS A VIGIAR-NOS!!” foram estas as palavras
que me vieram à cabeça, naquela voz poderosa. Vi novamente Sheftu naquela sala
de luz, onde o seu retrato pousava na pintura que descansava na parede. Ela
sabia-o. Afinal não era um sonho. De alguma forma ela conseguiu ligar-se a mim
aquando estava inconsciente.
- JULIAN! - Gritou Rania, parecia que deixara-me
levar pelos meus pensamentos uma vez mais.
- Não sei o que dizer Rania. Sei tanto como
tu. Assim que voltei da Transilvânia, senti-me muito fraco e perdi a
consciência. Só voltei a mim hoje de manhã e vim ao teu encontro logo de
seguida.
- Transilvânia?
Pois... ela não sabia desta parte.
- Lembras-te daquela pista que fui investigar?
Pois bem, levou-me à Transilvânia. Fiz-lhe um resumo do que se passara,
tentando ocultar o máximo que podia. No entanto achei giro assustá-la um pouco.
- Sabes a Sheftu? Ela é uma vampira milenar originária do Egipto, talvez isso
seja parte do que faz aquilo que ela é hoje, uma poderosa vampira.
Primeiro a sua expressão mostrava um certo
temor que ela tentava esconder, mas depois pareceu divertida.
- Os teus olhos não enganam! Estás apanhado!
Essa vampira hipnotizou-te! - Disse.
Hipnotizou
de facto... Não, não hipnotizou! Mas que raio, por que
é que o meu subconsciente me atraiçoava desta maneira?
- Bem, podes fazer o resumo do que se passou?
É que convém depois que vás até Santiago com novidades.
- Ela olhou para mim com um sorriso parvo,
provavelmente já pronta para atormentar-me - Com ou sem pormenores quentes? -
Perguntou.
Percebi então a razão porque deixara Rania
naquela noite sozinha. Aquele Eric junto com Sheftu era simplesmente
repudiante. Por isso tinha-a abandonado para um passeio nocturno. Sabia que
Rania estava pronta a ter o gostinho de pisar mais na ferida, mas eu não estava
para isso, e fiz-lhe perceber isso.
- Bem... Já que insistes, parece que durante
aquele momento escal...- Ela olhou para mim e hesitou – Bem, resumindo, depois
de tudo, parece que houve alguma tensão entre Sheftu e o meio-vampiro, e não
consigo dizer o porquê. Sheftu apenas continuava persistentemente a perguntar
“por que não me avisaste?”. - Disse ela tentando imitar Sheftu. Hum.. O que
teria acontecido?! - Ah!! Mas há mais... E isto sei que queres ouvir. O Dean...
- Sim, o que é que tem o Dean?
- Anda desesperado para se tornar um de nós.
- Não...
- Acredita! E o melhor é que Carmen recusa fazê-lo.
- Carmen sempre a alma que opta pelo que é correcto. - E então ele parece andar
à procura de quem o faça...
- Eu voluntario-me. - Respondi imediatamente.
A sede de beber o sangue daquele humano era tentadoramente surreal. - Primeiro
transformo-o, isso seria uma facada no coração de Carmen; e depois MATO-O!!
- Hei!! Acalma as tuas presas, porque ele já
conseguiu quem o fizesse... - O meu silêncio e expressão de curiosidade fez com
que ela finalmente revelasse o nome – a Sheftu.
Eu ainda estava a absorver, quando Rania, numa
impulsividade, continua o relato.
- Quem não gostou nada foi Carmen. Quase que
ia havendo porrada novamente.
- AHAHAH. Característico!
Ela continuou o seu relato, apontando mais um
ou outro pormenor mais importante, para depois os seus músculos ficarem tensos
novamente e parar o seu discurso.
- Ela continua à procura... - Disse com um
ligeiro olhar sob a casa. Ela tem estado nisto desde madrugada. Ainda o sol não
tinha despertado.
Sabia que referia-se à Sheftu. Ela percorria
cada canto da casa com uma vontade enorme de descobrir quem ali andava.
- Rania, fizeste muito, e não quero que te
preocupes com o facto de desconfiarem que a casa está sob vigilância. Não é
nada assim tão grave, apenas é mais um elemento a nosso favor. Criar pânico e
confusão naquelas cabecinhas, apenas as torna mais frágeis. Mas quero que
informes Santiago de tudo isto. O relatório do que se passou aqui será relatado
por ti. A minha investigação está aqui relatada. Entreguei uma nota na forma
habitual, para que só Santiago pudesse ler. - Fiz uma pequena pausa. - Mais uma
coisa, enquanto estiveres por lá vê se descobres algo sobre Noryeg.
- Claro. Não te preocupes. Ficarei de olho na
tal aliança de Noryeg. Devemos ficar atentos ao que se passa.
- Obrigada Rania. - Disse-lhe com um ligeiro
inclinar de cabeça.
Ela estava a aprontar-se para que eu a
teletransportasse, quando eu intervi novamente.
- Não estás a esquecer-te de algo?
- Hum... - Ela não fazia ideia ao que me
referia.
- O anel. - Disse-lhe com a minha palma da mão
pronta a recebê-lo.
Rania ficou ainda indecisa, mas depois retirou
o anel e devolveu-mo.
- Bem. Vemo-nos logo à noite. - Disse-lhe e
fi-la desaparecer.
“Carmen
tinha aceite transformar Dean…” Era estranho ainda tinha esta informação a
batalhar no meu cérebro. Afinal a insistência daquele humano e o medo de ver
uma Sheftu II, caso Sheftu transformasse Dean foram o suficiente para
fazê-la ir em frente com a vontade daquele humano.
Deixei-me passear pelos jardins. Não queria
interromper a investigação de Sheftu.
As horas passavam. Sheftu estava agora em
pânico com o facto do que pudera ter acontecido com uma vampira e um lobisomem
que tinham misteriosamente desaparecido daquela casa. Às tantas Santiago tinha
algo a ver com o que se passara, mas mantinha-me fora do assunto. Ou então
Noryeg estava por detrás dos desaparecimentos.
A minha atenção foi roubada pela entrada do
Dean que revelou que tudo iria acontecer. Carmen iria transformá-lo. Ele no
entanto receava pela inexperiência da sua amada. Se ele falasse com quem
percebe disto, já não aconteciam estas inseguranças. Transformava-te, serias um
vampiro... por cinco segundos, depois apagava-te.
Aquela sessão iria ter público... deixei-me
estar a saborear todas aquelas emoções.
Três horas para o pôr-do-sol, finalmente senti
movimento no quarto de Carmenzita. Bem, vamos ver se estás verdadeiramente
preparada para alguma acção. Desconcertá-la era uma forma de a torturar.
Senti-a descer as escadas a deslocar-se até à
porta para deixar um candelabro que já não era mais do que ruínas. Deixei o
feitiço que me protegia cair nesse momento.
A sua silhueta, por detrás daquele vidro
escuro, voltou-se na minha direcção. Ao ver-me a sua expressão deixou-me ganhar
o que procurava - a sua inquietação. Sorri e acenei na sua direcção como forma
de desafio.
Ouvi o som da maçaneta da porta rodar por
momentos, mas depois parou. A sua expressão era de um valor incalculável. O sol
queimá-la-ia viva se ela resolve-se vir atrás de mim. Sorri ainda mais
malevolamente, e depois desapareci.
Não fui muito longe. Coloquei de novo o
feitiço que me ocultava e resolvi passar pela cozinha. Lugar onde Carmen estava
a tremer que nem varas verdes sentada sob o chão.
Vi a rapariga do fogo aparecer junto da porta
das traseiras e seguiu-se um curto diálogo. De facto Elizabeth tinha razão, é
que todas as vampiras da casa pareciam demasiado interessadas em serem
consumidas pelo fogo.
Vi Carmen fechar os olhos, à espera do ataque
daquela rapariga. Ela ia mesmo fazê-lo.
Senti o calor crescer dentro de Elizabeth. O
ataque iria acontecer a qualquer momento.
Conduzi uma melodia em forma de corrente que
percorria o ar sem nele fazer grande perturbação. Uma melodia quase inaudível
de um murmurar de palavras antigas numa corrente gélida que em breve atingiria
a pequena alma de fogo. Envolveu-a primeiramente dos pés à cabeça, sem lhe
tocar e depois abraçou-a numa gélida dor que a consumia mas que não a deixava
exprimir a agonia em que estava.
Não Elizabeth!
Avisei-a. Não tocas na Carmen!
- Quem és tu para dizer o que posso ou o que
não posso? - Refutou ela com uma chama mais forte para tentar quebrar o que a
aprisionava.
Já disse que NÃO!
Nesse momento aquela corrente mágica
trespassou-a por completo cortando a mais pequena chama que ainda tivesse
dentro dela. Beth caiu no chão, para meu deleite, e logo de seguida vi Carmen a
ir ao encontro dela.
- O que aconteceu? - Perguntou Carmen.
- Eu tentei mas…Ele não me deixou. - Disse ela
ainda a recuperar do recente ataque.
- Ele? Ele, quem?
Eu. Disse-lhe. Ninguém te magoa, a
não ser eu.
Carmen tentava ajudar a pequena acabando por
ser empurrada por esta. Ela definitivamente não estava contente com o que tinha
acontecido, e saiu dali sem dizer mais nada.
Frankie entrou pela cozinha, logo de seguida
com novidades.
- Hum…Carmen, o Dean diz que está pronto.
Bem parece que finalmente ia acontecer. Carmen
morderia o seu precioso humano para transformá-lo naquilo que ela toda a vida
odiou, naquilo que por muitas horas se massacrou pela sua própria condição como
vampira. Uma vampira com complexos... Uma vampira que os ia quebrar por amor.
Estava na hora de regressar. Santiago
precisava de saber disto. Mais um vampiro nesta casa era informação mais do que
suficiente para me ausentar do meu posto de vigia sem que Rania ainda tivesse
voltado. Mesmo que novato, este novo Dean seria capaz de provocar estragos.
Teríamos que actuar o mais rápido possível.
Naquele quarto todos aguardavam pela
transformação. Já faltava agora muito pouco. Precisava de ter a certeza que
Carmen levaria aquilo adiante. As presas dela finalmente perfuraram a pele de
Dean e então o processo tinha começado e não havia forma de voltar atrás.
Estava na hora de avisar Santiago.
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